Uma ainda jovem guerreira elfa conhecida apenas por
Brisa Selvagem devido aos seus atos
heroicos do passado, os quais fizeram sua figura conhecida nos arredores de
todo o mundo, sendo seu “apelido” um eco de respeito entre todas as raças – mesmo
as ditas inimigas dos elfos –, certo dia encontrava-se perambulando, como de
costume, por mais uma das muitas cidades já conhecidas por seus olhos,
continuamente em busca de algum novo desafio capaz de colocar seu espírito,
mais uma vez, à prova.
Durante sua passagem pelo mercado central
dessa cidade, sentira a estranha e, paradoxalmente, já íntima sensação de estar
sendo observada. A mesma a qual sentira, pela primeira vez, há exatos 28 anos
atrás, quando dera início à sua caminhada espiritual em busca de respostas para
as questões mais profundas de seu ser; caminhada esta que a apresentara
diversas experiências, nem sempre boas, as quais a fizeram agir como nunca
antes imaginara, levando-a a percorrer um caminho cada vez mais entrelaçado, um
verdadeiro labirinto interior responsável por sua atual situação. Agiu como
fazia comumente nessas horas: percorreu, discretamente, o local ao seu redor,
não deixando seu olhar perder um mínimo detalhe, procurando o dono dessa
torturadora sensação, tendo o mesmo resultado de suas vãs buscas anteriores – a
desesperadora frustração de costumeira perda.
Após desistir de mais uma
busca frustrada, a jovem elfa seguiu caminhada a taberna. Por ser um local onde
diversas pessoas se reúnem, inclusive viajantes como ela, lá pretendia
encontrar alguém que lhe dissesse um novo rumo a seguir. Porém, antes mesmo de
chegar à ruela que levava à taberna, Brisa
Selvagem depara-se com dois marmanjos saqueando uma idosa senhora. Com
fúria no olhar, a guerreira deixa sua impulsividade subjugá-la e corre para
ajudar a anciã. Os assaltantes, ao perceberem a ameaçadora presença, logo fogem
por um dos becos da pequena rua, jogando o cansado corpo da senhora em direção à
elfa, sendo esta obrigada a desacelerar seus passos para ampará-la.
- A senhora está bem?
- Sim, obrigada minha jovem! - a anciã com o fôlego
desgastado tentando recompor-se. - Tenho que voltar para minha casa.
- Tem mesmo certeza de que
está bem?
- Só o fato de ainda estar
viva já me é de grande valha, minha filha!
- Bom, então vou atrás
daqueles desgraçados para tentar reaver o que lhe roubaram.
- Não, não vá! - a velha senhora segurando
com firmeza o braço da guerreira responde. - Não é necessário arriscar sua vida por causa
de simples moedas que têm valor apenas no mundo material.
A jovem só naquele momento
encarara a humana percebendo ter a mesma os glóbulos oculares completamente
brancos, como se uma névoa os encobrissem, percebendo, então, ser a velha
senhora cega.
Sentindo a perplexidade da
elfa, a anciã diz sorrindo:
- Não posso deixar de achar
engraçado a reação das pessoas ao se depararem com a realidade.
- Ehh... Desculpe-me! - responde Brisa Selvagem baixando a cabeça,
envergonhada.
- Eu não me incomodo com
isso. - a velha senhora ainda
sorrindo. - Esqueça os ladrões. Nem
sempre a justiça humana é capaz de sanar os males causados pela própria humanidade.
Venha! Gostaria de tê-la como convidada para um chá em minha casa. - esticando a mão em
oferecimento à elfa.
A guerreira olha e segura a
mão da anciã, que, sorrindo, começa a andar, guiando Brisa Selvagem até sua casa.